Intoxicação por metanol: polícia investiga caso de jovens internados após consumo de gin em SP
27/09/2025
(Foto: Reprodução) Bebida Alcoolica
Reprodução/TV Integração
A Polícia Civil de São Paulo investiga um caso de possível intoxicação por metanol que deixou quatro jovens — dois homens e duas mulheres, com idades entre 23 e 27 anos — internados após consumirem duas garrafas de gin no último dia 1º de setembro, um sábado.
🔎 De acordo com o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, já foram registradas duas mortes por intoxicação com metanol em bebidas alcoólicas neste mês: uma na capital e outra em São Bernardo do Campo. Outros dez casos semelhantes seguem sob apuração.
Segundo o boletim de ocorrência, obtido pelo g1, o grupo comprou as garrafas de gin, além de gelo de coco e energético, em uma adega localizada na região da Cidade Dutra, na Zona Sul da capital.
Em seguida, eles se reuniram na casa de um dos jovens, de 27 anos, para uma confraternização que se estendeu até cerca de 3h.
No dia seguinte, o dono da residência começou a passar mal, apresentando vômitos e fortes dores abdominais. A princípio, ele acreditou que eram sintomas de ressaca. No entanto, segundo relatou a tia dele no B.O., o rapaz começou a gritar que estava cego.
Levado pela família ao Hospital Geral do Grajaú, ele entrou em coma e foi intubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ainda no domingo, foi transferido para o Hospital São Luiz, em Osasco, para realizar sessões de hemodiálise, onde permanece internado.
O boletim de ocorrência aponta que as garrafas consumidas pelos jovens foram entregues ao hospital, submetidas a exames e tiveram presença de metanol confirmada, resultado compatível com os sintomas apresentados pela vítima mais grave.
Após a confirmação da suspeita, os demais jovens que participaram da confraternização foram chamados ao hospital e também acabaram internados, segundo o registro policial.
A mãe de uma das jovens relatou à polícia que a filha apresentou tontura, enjoo e visão turva depois de beber o gin. Segundo ela, o rapaz que está na UTI ingeriu a bebida pura, enquanto os demais a misturaram com gelo e energético.
As garrafas e os copos utilizados na confraternização foram apreendidos pela Polícia Civil e encaminhados para perícia. Apenas o laudo do Instituto Médico Legal (IML) poderá confirmar se a bebida estava adulterada com metanol.
O gerente da adega onde as bebidas foram compradas prestou depoimento. Ele afirmou que todas as mercadorias do estabelecimento têm procedência e nota fiscal.
Disse ainda que o jovem internado em estado grave “é frequentador assíduo do empório” e que teria adquirido o combo de bebidas já apresentando “sinais notórios de embriaguez”.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, em nota, que um inquérito policial foi instaurado pelo 48° Distrito Policial da Cidade Dutra.
" A autoridade policial está empenhada na coleta de depoimentos de testemunhas, vítimas e demais envolvidos, bem como no aprofundamento em outras diligências. Também foram requisitados exames periciais para auxiliar no esclarecimento das circunstâncias dos fatos", disse a pasta.
Duas mortes no estado de SP
Duas pessoas morreram por intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas na capital paulista e em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, segundo informou o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo neste sábado (27) ao g1.
Conforme o órgão, desde junho deste ano, foram confirmados seis casos de intoxicação por metanol, dos quais dois resultaram em óbito. Atualmente, há 10 casos sob investigação com suspeita de intoxicação por consumo de bebida contaminada, na capital. Ainda não se sabe como ocorreram as intoxicações.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde da capital paulista informou que a vítima em São Paulo é um homem de 54 anos, morador da região da Mooca/Aricanduva. Ele apresentou sintomas em 9 de setembro e morreu no dia 15.
Em nota, a Prefeitura de São Bernardo, por meio da Secretaria da Saúde, disse que atendeu um paciente no Hospital de Urgência, que morreu por suspeita de contaminação por metanol.
"Ainda são aguardados exames para confirmar a contaminação. Mais informações não serão repassadas em respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)", disse a pasta.
Nesta sexta-feira (26), o Ministério da Justiça e de Segurança Pública divulgou que a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos recebeu, por meio do Sistema de Alerta Rápido, "notificação que reporta nove casos de intoxicação por metanol no estado de São Paulo, num período de 25 dias, todos a partir da ingestão de bebida alcóolica adulterada".
Ainda conforme o Ministério, os casos são "considerados fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol" (leia a nota na íntegra abaixo).
Metanol
O metanol (CH₃OH) é uma substância altamente inflamável, tóxica e de difícil identificação. O produto é um tipo de álcool simples, incolor e inflamável, com cheiro semelhante ao da bebida alcoólica comum.
Ele já foi chamado de “álcool da madeira”, porque antigamente era obtido pela destilação de toras. Hoje, sua produção industrial é feita principalmente a partir do gás natural.
Porém, embora seja usado em pequenas quantidades na natureza, podendo ser encontrado em frutas, vegetais e até produzido pelo corpo humano em baixíssimas doses, o metanol é altamente tóxico em concentrações elevadas.
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde
"O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo informa que, desde junho deste ano, foram confirmados seis casos de intoxicação por metanol, dos quais dois resultaram em óbito - um em São Bernardo do Campo e outro na capital.
Atualmente, há dez casos sob investigação com suspeita de intoxicação por consumo de bebida contaminada, na capital.
O CVS está apoiando e monitorando o trabalho dos Municípios na fiscalização dos estabelecimentos de comércio de bebidas (distribuidoras, bares etc.) envolvidos na comercialização e distribuição dos produtos contaminados. O CVS reforça que o consumo de bebidas alcoólicas de origem clandestina ou sem procedência confiável representa risco à saúde, já que podem conter substâncias tóxicas.
A recomendação é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos, e que a população adquira apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa e prevenindo casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco".
O que diz o governo federal?
"Nesta sexta-feira (26), a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP) recebeu, por meio do Sistema de Alerta Rápido (SAR), notificação que reporta nove casos de intoxicação por metanol, no estado de São Paulo, num período de 25 dias, todos a partir da ingestão de bebida alcóolica adulterada.
O número de casos registrado, inicialmente, pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), de Campinas (SP), e encaminhado ao Comitê Técnico do SAR é considerado fora do padrão para o curto período de tempo e também por desviar dos casos até hoje notificados de intoxicação por metanol.
O Ciatox recebeu, nos últimos dois anos, casos de intoxicação por metanol a partir de consumo de combustíveis por ingestão deliberada em contextos de abuso de substâncias, frequentemente associada à população de rua. Contudo, de acordo com a notificação de hoje, a ingestão se deu em cenas sociais de consumo alcóolico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros. São registros inéditos no referido centro toxicológico. É possível haver outros casos não notificados, uma vez que nem todos os casos de intoxicação chegam aos órgãos de vigilância e controle.
A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias. Nesse sentido, requer alerta à população, considerando, inclusive, o início do fim de semana, quando há maior frequência a bares e consumo de bebidas alcóolicas.
SAR - O Sistema de Alerta Rápido sobre drogas do Brasil (SAR) é um subsistema do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas - Sisnad, gerenciado pela Secretaria da Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), vinculado ao Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid)".